18/10 - Namur
Nesta madrugada, acordei com dores lancinantes na lombar e na bunda, como se uma manada de rinocerontes enfurecidos tivesse decidido me currar concomitantemente, à traição e sem beijijnho na nuca. Não é a primeira vez que me acontece, e sempre atribuí o fato às camas pouco ergonômicas dos hotéis durante as viagens, mas agora penso que tem mais a ver com passar horas caminhando com a mochila nas costas, por mais que esteja pensando só uns seis inocentes quilinhos.
Passeando pela cidadela de Namur, consegui ser mordido por uma calopsita assassina. É uma boa metáfora da condição humana em um mundo sem deus. Você encontra o bicho provavelmente machucado num canto do chão, se abaixa pra pegá-lo com pernas ainda um tanto doloridas da crise de nervos ciáticos de umas horas atrás, preocupa-se em pagar o mico de levá-lo pra alguém da administração do lugar e receber aquele olhar de "mas o que é que eu tenho a ver com isso", e recebe como retribuição uma bicada de tirar sangue, e inocular sei lá quantos vírus silvestres desconhecidos em sua corrente sanguínea.
E dito e feito, agora estou aqui meio febril, com as pernas moles, sem pus escorrendo pelo dedo picado, mas, ainda assim, saboreando minhas prováveis últimas horas de vida. Como tratador de dependências de comportamentos, nada mais adequado do que passá-las no cassino da cidade, onde o caça-níqueis não aceitava centavinhos, mas deu pra filar uns salgadinhos cheesitos e umas balinhas de frutas.
2 Comentários:
Este comentário foi removido pelo autor.
A calopsita era boazinha.. Ela só estava assustada. É só jeito para segurá-la.
Valeu cada segundo. Como sempre mágico.
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