terça-feira, 15 de novembro de 2016

14/11 - O eterno e cada vez mais melancólico retorno

Pronto, acabou. Mais uma vez de volta ao calorento, enfastiante e despropositado dia-a-dia da vida cotidiana, até que mais uma nova viagem aconteça, e termine, e mais calor, tédio e despropósito a sucedam. Como diria, desmunhecando, Elton John, é o ciclo da vida.

Agradecimentos a mim mesmo, que me proporcionei mais esta oportunidade de, se vou mesmo reclamar da miséria de existir, porque é de minha mais incoercível natureza, pelo menos fazê-lo em Paris,


agradecimentos à coitada que me aguentou por um mês inteiro praticamente sem tirar de dentro e me deu inúmeras e gigantescas oportunidades de pagar meu karma, se ao menos eu acreditasse neste tipo de coisa,


e agradecimentos à pança, que, cada vez maior, há décadas me carrega pra cima e pra baixo sem reclamar, enquanto eu, por minha vez, não faço outra coisa senão me queixar, frequentemente dela.


Qualquer ano destes tem mais. Ou não, se o câncer vier. Já que o atentado terrorista não veio.

domingo, 13 de novembro de 2016

13/11 - Paris

Como nenhuma viagem para a Europa é realmente completa sem ser maltratado por alguns parisienses, e também porque não tinha jeito mesmo e a conexão só sai amanhã, resolvemos dar aquela passadinha relâmpago por aqui. Com o avião chegando às duas da tarde, e então tendo apenas o resto do dia pra fazer o que fosse possível, inclusive chegar ao centro da cidade, o que leva mais ou menos o que o avião levou pra chegar do cu da Escócia ao subúrbio de Paris.



Antes de embarcar em Aberdeen, tudo pára por dois minutos, para fazer uma homenagem oficial aos mortos na guerra ou qualquer coisa assim. Desde ontem os dois minutos de silêncio já vinham sendo anunciados cá e acolá. É assim mesmo que se faz, coleguinhas! Sempre que a gente se sentir absolutamente impotente, insignificante, desprezível, inútil e puto da vida com a condição humana e com o fato de existirmos e sermos todos doentes desta patologia crônica chamada vida, basta eleger um pretexto qualquer, fazer uns minutinhos de silêncio, e já podemos nos sentir mais dignos, donos de nossos destinos, menos contingentes vítimas passivas de nossa natureza, olhar no espelho e dizer de peito cheio "nós fizemos alguma coisa!".
Isto posto, há algo contagiante no solene silêncio de um aeroporto cheio de gente calada e estática. E então dois minutos depois tudo acaba, todos começam novamente a rir, com a sensação de leveza do dever cumprido.



Depois do pouco tempo disponível ser desperdiçado na fila do passaporte, andando pelo aeroporto pra encontrar o local de tomar o busão e depois pegando quase duas horas de congestionamento dentro dele em plena tarde de domingo, aquela passadinha relâmpago noturna por Paris, mesmo assim com direito a ampla, geral e irrestrita caminhada sob um chão molhado de chuva da Nation à torre Eiffel, com pit stop em, sim, vocês acertaram, buffet de comida chinesa. O mais caro, pobrinho e pouco memorável. 





12/11 - Aberdeen

E as férias quase terminam com um dia de sol firme afinal, praticamente dedicado a voltar a passar pela frente da maioria dos lugares já visitados ontem, para lhe dar uma nova, e bensucedida, chance de ser melhor apreciados sob clima mais generoso.


O almoço, no Burger King, que por se tratar de cadeia de lanchonete, deveria ter sido mais barato, custou mais de 15 libras. Pelo menos foi pra comer um sanduíche que não existe no Brasil. Mas, cá entre nós, os 10 sanduíches anunciados são basicamente o mesmo.


À noite, cinema pra assistir Arrival, a 10,40 libras por cabeça. Filme unanimemente elogiado em toda e qualquer crítica de cinema, mas bocejantemente paradão e tedioso. E o milk-shake da Baskin & Robbins estava meio aguado.



E o estranho gerente do hotel permanece funesto, andando de cá para lá com uma postura meio paranóica, como um coveiro que cheirou muita cocaína. Mas acabou não sendo inaceitavelmente inadequado, e até deixou um recibinho da grana paga em espécie para a Fátima, faxineira que nos abriu a porta, e que tinha toda a pinta de que se prostituía no segundo turno pra fazer um dinheirinho extra e mandar pra família lá em Portugal.



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sexta-feira, 11 de novembro de 2016

11/11 - Aberdeen

E chegou a vez da cidade natal da Annie Lennox, que já foi tesudona e vastamente homenageável um dia, mas agora, assim como todos meus heróis ainda não mortos (Leonard Cohen foi-se hoje...), encontra-se mais enrugada e flácida do que a pele de minha bolsa escrotal.


Caraca, mano, é que nem assim uma crise de herpes genital. Você acha que já teve uma este mês, ela durou o suficiente, você passou aquele creminho irritante na piroca de 3 em 3 minutos por uns 5 dias, e agora pode descansar até o mês que vem.... E aí, uns dois dias depois, acorda de madrugada pra fazer um xixizinho, olha pra baixo, e.... pimba, lá vamos nós tudo de novo!
Hoje, pela sétima vez na viagem, adivinhem..... Buffet livre! Bem decente, 8 libras sem o refrigerante, mas é como o dilema sobre o que fazer de sua vida sexual depois de ter desfrutado da Ana Paula Arósio...Quem cobiçar no dia seguinte? Depois do buffet de Newcastle, tudo parece um degrau abaixo, e ainda resta a questão pragmática de, ao chegar às 132 possibilidades de sobremesa, já estar tão entupido de comida até a ampola retal que comer mais uns 3 pratos de doces se torna não um prazer, mas quase uma penitência.



E então, mais um capítulo daquela roleta russa que é reservar pelo critério de menor preço e, quando possível, dando alguma atenção à questão da distância, hotéis que na verdade nem hotéis são, mas obscuros estabecimentos sem uma recepção ou adminstração, mas apenas uma pessoa que pode estar lá presente ou não para abrir a porta quando você chegou, e que frequentemente fala um inglês pior do que o seu, o que, no meu caso, é tarefa cada vez mais árdua.
Hoje bate na porta do quarto, às 10 e tanto da noite, o autoentitulado "chefe" do estabelecimento, onde mais cedo havíamos sido recebidos pela faxineira portuguesa, pedindo para, por alegada exigência da lei escocesa, fotografar um documento meu. 




10/11 - Edinburgh


Ah, de volta à cidade onde assisti Austin Powers, num cinema onde tome meu primeiro irish coffee e aceitei que uísque, em condições muito específicas, pode ser uma coisa razoavelmente tolerável.






Por falta de opção de horário de ônibus, mais um dia passado com as poucas e nobres horas de claridade, não necessariamente sol, com a bunda sentada num assento. Então, pouco tempo restou para mais do que dar um rolê noturno, mas até que climático, pela cidade. Com jantar no fast-food de pizza com direito a duas fatias esturricadas e fim-de-feira pelo preço de uma, e com um refrigerante de graça além disto. Esta parte eu não entendi. Mas tava gostoso. Pizza, tirando aquela que tem abacaxi, é que nem mulher: mesmo quando é muito ruim é muito bom.



Depois de passar um bom tempo procurando uma lojinha da Baskin e Robbins que, assim como a ampla geral e irrestita felicidade exposta por todos no facebook, só existia mesmo na internet, nada restou senão apelar para o potão de sorvete Cadbury sabor algodão doce e chocolate escrustrado por jujubas. 


E um pouquinho de Edinburgo sob a luz do dia seguinte:








quarta-feira, 9 de novembro de 2016

09/11 - Newcastle



Mais um dia chuvoso como tantos, o que segue inviabilizando deitar num gramado de parque, dar uma cochilada, ficar projetando formas nas nuvens como os crédulos projetam um deus no universo. O McDonald's daqui tem um capuccino meio estranho, sabor flavoured cookie, a 2,70 libras, não muito memorável.



O wi-fi do albergue, teoricamente gratuito, não permite acesso a vídeos em streaming ou Netflix sem o pagamento de duas malandras libras adicionais. Então, depois de visitados os lugares restantes, embaixo de chuva, e ainda faltando um bom tempo pra abertura do restaurante, nos enfronhamos numa poltrona de um museu para parasitar o wi-fi deles e assistir a cota diária de Jessica Jones. Ainda sem um mísero biquinho de peitcho visível, e já estamos no capítulo 7...



E aí, no comecinho da noite, num gesto da mais gordurosa contumácia... Buffet de comida novamente!!! Pela sexta vez nesta viagem, o mais carinho mas também o mais glorioso de todos, com uns 80 pratos diferentes, e aquele desespero de perceber que, mesmo pegando só um tequinho de cada coisa, não haveria espaço pra tudo. Meio como abrir a porta de um rodízio de carne humana, encontrar a Ana Paula Arósio, a Maitê Proença, a Bruna Lombardi, a Jennifer Anniston, a também Jennifer Connely, a Simony (pra dar um tempero exótico à refeição...), as 9 irmãs gêmeas de cada uma delas, todas disponíveis para as modalidades papai-e-mamãe, meia-nove, cachorrinho, helicóptero e cowboy tranverso e se dar conta de que você só tem uns 50 mililitros de esperma pra fazer frente a esta pujança toda.




08/11 - Newcastle


Ou Newcastle-upon-Tyne.... E tem também a Strattford-upon-Avon que não deu pra espremer nesta viagem, e na Holanda, o nome oficial de Den Bosch é S'Hertogenbosch, e a própria Amsterdam tem um nome mais longo, que estou sem saco pra pesquisar agora. E daqui a uns dias estarei de volta à lastimável Sampa-upon-Tietê.

E finalmente estou na cidade de John Constatine, onde as histórias em quadrinho dizem que um ritual de magia negra fez com que as portas do Inferno fossem abertas e o fizeram passar alguns anos internado, insano, numa instituição psiquiátrica. E enquanto eu, já passado da meia idade, continuo lendo estas merdas, meu doutorado permanece mais parado do que um cocô no intestino do finado Enéas.


À tarde, passei por uma enganação genial: uma portinha prometendo mais de 200 sabores de milk-shakes... Todos eles nada mais do que duas bolas de sorvete de creme batidos no liquidificador com uma respectiva barra do chocolate de sua escolha. E ao preço de 3,50 libras, o copo grande. Justiça seja feita, aprendi com minha em todo o restante imprestável irmã a fazer muito melhor com um pouco de leite e um pote de nutella. Mas ainda volto lá amanhã pra pedir mais um shake malucão.


E os americanos acabam de eleger Trump presidente dos Estados Unidos. Como dizia meu inesquecível ex-supervisor e breve colega de consultório Castillo, "eu não acredito em deus, mas, se ele existir, deve ser um cara escroto, porque só fode com a gente"...