segunda-feira, 31 de outubro de 2016

31/10 - Galway

Ah, os tantos lugares a que já resolvi ir por ter escutado alguma música que os homenageava....
O Paseo de Gracia do Alan Parson Project... A própria Dublin do Prefab Sprout.... Cidades que não são nomes de música mas de onde os músicos vieram, como a Dusseldorf do Kraftwerk, a Aberdeen da Annie Lennox, que está no roteiro desta viagem, a Hull dos Housemartins, pela qual ainda passarei um dia, a Grangemouth dos Cocteau Twins, que pensando bem é só um vilarejo cocô que nem merece ser visitado.
Hoje foi dia da Connemara da música do Deuter, que eu inicialmente acreditava ser uma cidade, mas é uma região do oeste da Irlanda, e uma daquelas palavras cuja sonoridade fazem o lugar merecer por si só ser visitado.








A música nem é a melhor faixa do disco, o lugar não é o mais bacana da Irlanda, em que pese a paisagem aqui e ali, e a excursãozinha contratada para nos levar lá por não insignificantes 25 euros por cabeça ficou bem aquém do esperado, não fazendo muito mais do que levar os incautos até um monastério ao qual se teria que pagar adicionalmente para entrar e a um vilarejo locação em que foi rodado de um filme da década de 50, com John Wayne. Deve ser pra eu parar de dizer que estou velho.



À noite, a preguiça falou mais alto do que a pança, e não me animei a ir correr na orla que Galway também tinha, o que não me poupou do banho semimorno na bizarra banheira encravada no canto de um quarto com banheiro sem chuveiro, porque tinha dado um tilt qualquer no sistema de aquecimento de água do lugar algumas horas antes.

domingo, 30 de outubro de 2016

30/10 - Galway

Ah, o acridoce sabor da vingança... Saber que neste momento alguns mililitros de minha urina habitam o tubo digestivo de nossos simpáticos co-hóspedes enche minha alma de leveza e meu espírito de contentamento. Só espero que o leite tenha sido de fato o deles, e não de outros que tenham também deixado suas comidas soltas na geladeira.



De volta do hotel para a estação de ônibus para seguir viagem, Rose e Dave fizeram questão de nos oferecer uma carona. Em plena manhã de domingo, sem absolutamente nenhuma necessidade. Muito fofos. Este é o momento do blog em que coloco em suspenso por alguns segundos minha cascuda carapaça de pruriginoso cinismo para lhes deixar meu mais enternecido elogio.



Já quase no finalzinho do passeio pela cidade, correndo atrás daquelas atrações turísticas bem mais-ou-menos, enquanto a vida de fato acontecia ao redor, nos deparamos com a surpresa de uma parada de halloween passando pelas ruas da cidade. A coisa era relativamente pequena, com zero noção de ritmo e coreografias margeando o inexistente, mas a temática era bem mais bacana do que estes sambas-enredo de escola de samba, e a quantidade de batucada também era bem menor.




Ah, e menção honrosa à minha calça, que hoje completa quinze dias de ininterruptos serviços prestados, sem tomar um banho.

sábado, 29 de outubro de 2016

29/10 - Limerick



E o dia começou tenso, com os dois negões com aparência de egressos da Febem, dois metros de altura e postura de mano hospedados no quarto 5 se queixando conosco por termos comido coisas que haviam deixado não-identificadas na geladeira e cozinha, e que assumimos que eram portanto públicas, como havia orientado Rose, dona do mocó. Enquanto escrevo estas indignadas palavras, maquino aqui comigo a viabilidade da logística para, se possível, mijar um pouquinho de madrugada no frasco de leite deles.




De turismo na cidade, em si, pouca coisa para ver objetivamente, mas ficar flanando pela cidade bastou para fazer hora para o grande evento anual e ponto alto de minhas viagens!



Levou uns dois anos.... A ansiedade foi crescendo insidiosamente, dia após dia, a saudade ia aumentando a cada novo nascer do sol.... Eu e ele, afastados por tanto tempo um do outro, culpa minha por ser tão lúcido e dele por ser tão assim, como dizer?, inexistente....
Mas hoje tudo mudou.... Eu estava lá distraído, sentando e levantando, levantando e sentando, tentando ficar acordado, mas, na verdade, meus pensamentos não saiam dele.... Minha boca salivava, meu estômago roncava.... E então, como numa cena de gang bang gastronômico de filme sueco de culinária, outro homem veio, e gentil mas determinadamente o colocou na minha boca.... E depois de anos com meu coração oprimido pela distância, eu mais uma vez comi o corpo de nosso senhor jesus cristo! Ou melhor, guardei no bolso pra poder registrar este momento mágico para todos e tão inúmeros vocês, que não estão lendo este blog. Em Limerick, amiguinhos, é muito luxo! E nosso senhor e salvador continua tão crocante e pouco saboroso quanto sempre! 


sexta-feira, 28 de outubro de 2016

28/10 - Limerick

E mais uma vez, uns quatro quilômetros de mochila no lombo para chegar ao hotel, que no site de reservas parecia tão pertinho, em que pese o agradável bucolismo da paisagem no caminho.
O hotel na verdade é apenas uma casa num condomínio fechado residencial ali pertinho no subúrbio, sem qualquer sinalização na entrada, o que me levou a suspeitar se é um empreendimento completamente lícito. Provavelmente sim. Mas é daqueles lugares em que você chega, toca a campainha, nada acontece, e aí fica três horas sentado na calçada esperando a dona do lugar voltar do cabeleireiro, porque não é um hotel com recepção, mas apenas um casal sem filhos e sem cachorro entrando na terceira idade tentando fazer uma graninha no ramo de hospedagem. Como quase foi o caso, com a afortunada diferença de que a tia estava saindo, e não chegando, e ainda nos deu uma carona de volta pra cidade. Gente boa.


Limerick lembra um tanto aquelas cidades do meio-oeste americano, com prédios baixinhos, uma certa pasmaceira, pouca coisa pra fazer ou lugares para visitar, com a diferença de que você vira a esquina e se depara com um castelo do século XII. 




A grande atração turística até aqui foi mesmo o hotel, com cozinha com acesso livre à geladeira, com um monte de coisas gostosas dentro, e achocolatado Cadbury's fora, internet no quarto que às vezes até funciona, e um monte de xampus e sabonetes de creminho no banheiro, daqueles que não fazem espuma e cismam em não se deixar enxaguar do corpo da gente.


quinta-feira, 27 de outubro de 2016

27/10 - Cork

E na Irlanda, ao contrário de em Gales, as coisas vem escritas em gaélico primeiro, e em inglês embaixo. Achei que teria dificuldade com o sotaque deles, mas não tem sido o caso, por enquanto. 



Ainda não tendo conseguido concretizar minha profissão de fé de comer minha hóstia anual, recebi hoje pela segunda vez aquele olhar de "seu herege ignorante" da tia atrás da mesinha ao lhe perguntar quando haveria uma missa. Ao que o pobre e crédulo ser me responde: "você quis dizer 'culto', não? Somos uma igreja anglicana". Tanto faz, tia.... Deus é uma hipótese ecumenicamente tacanha...


Andando por umas ruazinhas  mais periféricas de Cork, me diverti hoje com a ideia de que provavelmente nenhum outro brasileiro jamais tivesse passado por elas em toda a história da cidade. Apenas para esbarrar depois em duas adolescentes brasileiras que faziam compras no equivalente às Lojas Americanas aqui deles, onde consegui umas camisetas por 3 euros. Baciada elegante é isso aí! Roupa é o tipo de coisa que só merece ser comprada por este preço.



Hoje a noite me reservou mais uma daquelas experiências arquetípicas, comer pub grub num autêntico pub, vai lá, irlandês. Com a menina cantando meio mediocremente uns standards de jazz americanos, mas era parte do festival de jazz de Cork, e sem consumação artística ou 10% acrescentados à conta. E até dei uns goles numa cerveja que, se não estava boa, seria esperar demais, ao menos se mostrou surpreendentemente suportável.


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

26/10 - Swansea

E hoje é dia de passar a noite dentro do busão noturno para a Irlanda, para economizar uma noite de hotel e não perder um dia inteiro com a bunda sentada numa poltrona de ônibus (e ter que pagar o hotel depois, só pra dormir). O problema era o que fazer com um dia todo de mochilas nas costas, estas que engordam mais rápida e misteriosamente do que o meu abdome. E que foi resolvido espremendo a bagagem nuns armariozinhos de um museu na cidade, de tamanho originalmente pensado para comportar pequenas bolsas de mão ou itens avulsos. Meio como a piada do elefante que se casou com a formiguinha, que explodiu na noite de núpcias.



Num museuzinho meio bostinha sobre bondes que circulavam pela cidade, encontramos um par de adoráveis senhores guias voluntários, que, como num filme de terror para adolescentes, não nos permitiam sair do local, com incessantes sugestões e comentários e informações de toda sorte e natureza.



A tarde flanando pela cidade me valeu esbarrar com uma loja da Baskin&Robbins, que é muito mais bacana do que a Ben&Jerry's, e cujo milk-shake de english toffee justificou o dia. 



À noite, fiz aquilo que vocês brasileiros ainda vão levar uma árdua semana para poder fazer: Assistir o filme do Doutor Estranho. Tá bom, daqui a uns dias esta provocação não vai fazer a menor diferença, então aproveito para fazê-la agora.


25/10 - Cardiff, Swansea

Mais um dia sem sol em Cardiff, mas pelo menos tampouco com chuva. No teatro em frente ao qual passei a caminho do Museu National, em cartaz uma montagem do Rocky Horror Show. Que não dava pra assistir, porque o ônibus saía no começo da tarde, então sinto muito, aquele abraço.


Depois de almoçar na feirinha de rua, ver o castelo de Cardiff bem de longe, pra não ter que pagar entrada, e esperar mais de uma hora pelo ônibus de reposição, porque o original tinha estourado o vidro com um pedregulho de estrada, chegamos a Swansee, cidade para viajantes experts pernósticos, que quando vão ao Reino Unido não ficam apenas em Londres, mas vão a outros países, como Gales, e, cá, não se limitam apenas a Cardiff, mas se metem a vir pra Swansea. E isto é tudo, porque a cidade, em si, é meio bosta.






Mas como quem é chique é chique, tá nos cromossomos, não tem jeito, enquanto você fica correndo aí no Ibirapuera, Aderbal correu ontem uma pequena meia-maratona particular, aqui na vasta orla de Cardiff, competindo apenas contra sua pança, a velhice, esta adversária cada vez mais em forma, e a absoluta escuridão de boa parte da pista de corrida. Mas é bonito quase esbarrar com vários corredores, todos se exercitando no escuro.


Ah, sim, e o Havaí é aqui:





terça-feira, 25 de outubro de 2016

24/10 - Cardiff

Ah, epitáfio para a noite passada em Londres: mais um vez dormida em um albergue, também com quartos para 18 pessoas, mas estes com, em vez de beliches.... TRI-liches, o que aumentava a quantidade de corpos por metro cúbico e o grau de promiscuidade entre todos os presentes. Então,  atravessar um mar de malas e roupas espalhadas pelo chão para chegar lááá em cima, onde o efeito amplificador dos cossenos fazia com que cada movimento de perna do cara do primeiro andar fosse sentido como um terremoto no terceiro. O mar de roncos que se revezavam ou sobrepunham e uma moça com terrores noturnos que passou a noite despertando aos gritinhos tampouco ajudou muito a passagem por esta pequena sucursal de Abu Ghraib.


Se a véspera havia sido um dia de sol em Londres, o que não é pouca coisa, já no caminho de Cardiff o tempo fechou, e o dia inteiro na cidade foi aquele céu cinzento uniforme com chuva fraca mas incessante caindo sobre a alma, enchacando os pés e barras da calça, apesar de esforços malsucedidos para barrar o estupro pela água. 




Mas deu para comer fudge sabor Red Bull, visitar alguns edifícios bem doidos e pelo menos passar pela frente do estúdio de gravaçào do Dr. Who, porque, seguindo a tradição, a coisa fechava às 15:30.




E sim, essa coisa aí embaixo é galês, e não um chimpanzé sentado em frente a uma máquina de escrever tentando datilografar Shakespeare.




domingo, 23 de outubro de 2016

23/10 - London

O que Canterbury tinha de pequenininha e transitável, Londres tem em enormidade. No mapa parecida pouquinho, mas na vida como ela é, a caminhada do rodoviária até o albergue tem 4 km, e com a mochila no lombo.


Um bilhete de um dia de transporte público custa escorchantes 12,70 libras, e uma viagem de metrô, indecentes 4,90 libras. Neguinho paga aqui pra andar umas 3 estações de metrô o que aí no terceiro mundo vocês que não estão aqui na Europa como eu pagam pra ir até, sei lá, Campinas.


Então foi pezão no chão, pra ir daqui de Battersea até o gratuito Tate Modern, e de lá assitir artista de rua no Covent Garden, depois camelar tudo de volta e pronto, eis que já são 10 da noite.


Ah, e por sugestão de meu pai, pela primeira vez em uns 25 anos, dei um gole num cope de cerveja. Continua tendo o mesmo gosto nojento que teria se não fosse uma London Lager.


sábado, 22 de outubro de 2016

22/10 - Canterbury



Hoje  não teve chuva, não teve pé molhado, teve outro buffet de comida asiática, desta vez com preço em libra e 10% incluídos sem cerimônia na conta. Mas a garçonete era gostosinha.


Canterbury parece uma mini-Londres, ou melhor, uma Presidente Venceslau de primeiro mundo, com tudo o que interessa, castelo, muralhas, represinha, catedral, mercado, hotel e rodoviária em um raio de 20 minutos de caminhada, então frequentemente passávamos do ponto, e, quando íamos ver, o destino desejado já tinha ficado, uns dois miniquarteirões para trás.


À tarde, assisti a uma evensong, basicamente uma missa sem hóstia, ou o que quer que constitua a dieta alimentar de anglicanos, e com um coral cantando naquele estilo operístico meio tortuoso, procurando espremer umas melodias bastante questionáveis nos versículos bíblicos de sempre. Por mais que eu tenha tentado celebrar minha devoção e expressar todo  meu inquestionável amor a nosso senhor jesus cristo, nosso salvador, ainda não foi desta vez nesta viagem que consegui cravar meus dentes nele.


À noite seguimos uma procissão meio enigmática de peregrinos com um bateria de escola de samba um tanto bizarra puxando o cortejo que passou fantasiado por baixo da janela do quarto. Abadonamos o incompreensível samba do britânico doido ao passar por uma sorveteria, onde um waflle de chocolate e um milk-shake sabor butterscotch reperesentaram a segunda orgia gastronômica do dia e 10 libras a menos no bolso.


E agora, onze da noite, embaixo da janela, tem pub com mesinha na calçada com neguinho ainda fazendo arruaça na orelha. Isto porque as lojas aqui fecham às 6 da tarde e aquele abraço...